terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Sou orgia

Sofri o osso quebrado encanado.
No caminho de terra caminhado
Estendi a minha mão machucada
Quando me rasgava as farpas afiadas.
Chamei-te grunhindo  enrouquecido.
Desnudado das vestes fedidas
Poderia ter sido a foda vulgar
A trepada animal
O carinho do afagar
Ou amor transcendental
Mas não sou coisa que não vejo 
E vejo-me em coisas que não sou.
Não sou o dinheiro que não veio.  
Não a falta de sorte ou o sorteio.
Sou orgia, folia, fobia e ornamento.
Sou o Sol, a radiação solar
A voz do povo, o canto popular.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Assustado



Era um trajeto seguro
O único medo era ser sufocado pelo tédio.
mas quando me deparei com o seu olhos de índia,
o mundo ficou muito mais estranho.
Como uma fera - arredia e cercando de forma calma -
Atacou...
senti o sangue esquentar com a violência do seu olhar ingênuo.
uma nova criança nasceu.
Era tanta luz que acabou por deixa-lo cinza.
morri outra vez.
sem que já fosse contado nas viagens do meu pensamento
o tormento me abraçou com afago de uma amante
ao ponto de sentir sangue no beijo mais calmo
e a luz insistiu em não sair.
Por que você apareceu do meio das minhas maldades?
Por que insiste em me fazer recuar em escolhas que já fiz?

O Assassino

Hoje não tive piedade.
A muito tempo o espreitava.
Já não aguentava mais esse homem de meia idade.
Meu ódio a ele me sangrava

Não deu outra:
Fiquei, como sempre, a observa-lo
Esperei-o em sua alcova
E matei-o

Vi aquele homem doente caído
Meu sangue pulsava de ódio
Queria ainda chutar esse ser esvaído
Cego, Hipópio

Continuei a olhar esse ser
Olhando assim, não era tão ruim
Estranhei-me ao ódio e ao maldizer
Contemplei em silêncio, o seu fim.

Esse homem passou a não ser tão odiado
Talvez não tenha tido tantas opções assim
Um homem que corria muito, rodado
Adoeceu pelo caminho até ficar assim

Olhei-o mais profundamente
Sua pernas eram próximas as minhas
Ele me parecia careca totalmente
Suas sombranscelhas eram igualzinhas

Reconheci
Sou eu
O lado que não quero mais
O lado que em mim morreu

Esse ser não teria mais lugar por aqui
Então um de nós precisa continuar
Não quero as chagas que trás assim
Por que eu ainda quero caminhar...

domingo, 1 de outubro de 2017

As Sementes Invisíveis

Eram tantas sementes que recolhi nos campos que nem sei.
Eram verdes, amarelas, cinzas, negras...
Colhi várias de uma só vez
Algumas imponentes e outras nem tanto, efêmeras

Mas colhi e levei
Entrei nos meus campos para semeadura
Eram tantas sementes que mal pensei
Que teria tanta beleza e fartura

Mas as semente são muitas
Não sei quais eram boas ou não
Não sei se brotarão futuras risadas gratuitas
Ou os lamentos dos que chorarão

Plantei
Plantei
Mesmo assim plantei

Continuo regando para ver se elas crescem
Para sentir o sabor dos frutos
Para admirar, suas folhas, que ao vento se mexem
E descansar em seus arbustos...

terça-feira, 8 de agosto de 2017

O Vazio (Palavras Distorcidas)

E o vazio foi tão grande que transbordou em minha consciência.
Te tão "nada", foi que o deserto trouxe o vento.
O vento inconsequente, trouxe a ti.
E o vazio que me enchia, ficou inexistente,
Uma inexistência que você cobria.
E de cheio de "nada" me esvaziei da tristeza 
E me enchi de você...

quarta-feira, 26 de julho de 2017

O Vento

Estou a vários metros de altura
O vento sussurra ao meu ouvido 
Diz me assim: Voe rapaz, fuja da amargura!
Mas não sei voar - apenas olhar o infinito

Carrego um cesto vazio
Este meu coração que não cabe no peito
Mas ainda fico a sacada em desafio
Enxergando no asfalto meu leito

O vento sussurra que sou Deus
O Deus que morre no final
Deus? Não salvo o  melhor pedaço meu
Como posso ser tão colossal?

Então volto-me a conversar com vento
Neste clima frio de inverno
Retratando teus olhos marejados
Me jogo da onipotência ao infinito inferno

Ainda ouço o vento...

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Cidadão quem?

Estive pensando no caso do ator preso. Assunto complicado para se tratar. Mas agora a noite, esse assunto ficou mais vivo em minha mente. Sim, na verdade, dilacerou minha mente a noite. Vinha de um entrevista de emprego. Eu e Meia-noite(nome da minha moto velha,que por sinal, sou motoboy também), quando numa blitz fui parado. Fui parado nos moldes da velha repressão aos mais pobres. Um policial mandou-me parar, outro vindo por atrás de mim com uma mão na arma e outra no meu ombro, mandou-me desligar a moto e tirar o capacete. Tive uma primeira revista já em cima da moto. Assim que terminou, mandou-me descer da moto, colocar as mãos na cabeça e abrir as pernas para uma segunda revista. Isso tudo acontecendo no meio da pista. Além do sentimento de marginalização já me corroendo as entranhas, vi ao meu lado, um carro que parece ser importado parar por causa do fluxo do transito ser mais lento pela blitz policial. O carona olhou para mim e disse ao motorista que parece que estavam prendendo um marginal. Fiquei extremamente puto. Após todas as revistas, consultas aos documentos e eu ser "inocentado"(pobre no Brasil é culpado por alguma coisa, até por portar pinho sol.), perguntei ao policial se queria conferir minha carteira de trabalho. Mas nenhum outro condutor está sendo tratado daquela forma. Será que é pelo fato da moto ser velha? Será que é minha cor? Será que é o estereótipo? Escrevo essas linhas por que estou puto. Estou puto com a sociedade que vitimizam um ator da Globo com sua crise de "SABEM COM QUEM ESTÃO FALANDO?" já que a periferia é pisoteada o tempo todo e a sociedade está pouco se fodendo para ela. Que a periferia apanha no escuro enquanto os holofotes miram os senhores de engenho. Vivemos sendo doutrinados a ter a SOLIDARIEDADE BURGUESA em que rico que morre no tráfico vira mártir e que pobre tem que ser exterminado mesmo. Que os bajuladores dos burgueses que não são burgueses comecem a prestar mais atenção a sua volta. Esse é apenas um desabafo de um cidadão qualquer.

Romney Mesquita

terça-feira, 28 de março de 2017

Não quero mais ficar aqui



Não quero mais ficar aqui.
Aqui não tem luz,
Quando tem, não seduz.
Não quero sentir o cheiro dessas pessoas.
Não entoam cantos,
Não saem dos seus mundos,
Dos seus cantos.
Não vejo nenhuma vantagem ficar.
Aqui não tenho um amor ou um lar,
Não ha um parque bucólico ou mar
Nada há pra eu ficar.
Não quero ver mais as lágrimas no concreto,
Ficar dividindo tristezas e lamentos,
Ouvir o choro do menino mendigo
E o domínio do corsário.
Não quero ficar aqui!
Ao pensar nisso, decidi:
Vou partir.
Não quero choro nem velas.
Não quero aquela moça na janela a lamentar
Não quero flores ou dores
Só quero poema e amores.
Quero uma viagem tranquila.
Com leveza e paz infinita.
Deitar-me para ver o por do sol.
Não quero mais ficar aqui...

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Vende-se

Vende-se um coração velho.
Está um pouco descascado,
Arranhado, meio desgastado.

É um coração rodado.
Já esteve girando das mais tristes desgraças
Ao mais lindo dia ensolarado.

É um coração cheio
Tem vários compartimentos
Cheio de mantimentos, alimentos aos que virão.

Vende-se um coração velho.
Você ganha de brinde, uma alma ferida.
O preço é barato. 
Aceita-se trocas.
Troco por carinho, companheirismo e amor.
Venha depressa pois alguém interessado pode levar essa ótima oferta...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Plantador de Sonhos

Estava na varanda de casa.
Tomando meu café, eu assuntava. 
Saí com minha enxada velha, gume cego e meio torta.
Andei pela imensidão das terras.
Arranquei galhos secos e árvores grossas.
Arranquei as ervas que empesteavam o campo.
Capinei a terra seca, reguei.
Umedeci a dureza que a natureza me impôs.
Furei e joguei minhas sementes de sonhos.
Cultivei...
Cresceram com galhos tão grandes que eu não os alcancei mais.
Sentei ao seu pé aos prantos.
O soluço era constante.
Dormi ao pé da minha Árvore dos Sonhos
Acordei com tristeza, decepção e ódio.
Com olhos vermelhos e dor latente.
A machadadas, cortei a árvore.
Não chorei, apenas solucei.
Olhei seus pedaços espalhados pelo campo.
Peguei minha enxada e a quebrei.
Baixei meus olhos e voltei a varanda de casa.
Peguei um café e voltei a assuntar...

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Nuvens...

Houve uma tempestade.
Ela vinha com fúria,
Com vontade,
Com beleza.

Os raios rasgaram o céu.
O dia virou noite
e medo ganhou asas
E tudo virou trevas...