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"Estive alí parado, desnudado.
Parecia uma criança que fugia das bombas, correndo pelado tentando no tempo e espaço,
o meu encontro em mim,
meu pedaço."
E contaram-te uma história.
Essa história era longa, muito longa.
Os fonemas que saiam pelo ar foram escritos em linhas retas.
De tão retas, perdiam-se no horizonte.
Um texto muito bem escrito.
Um texto simples e obedecendo todas as regras ortográficas.
É muito certinho esse texto,
Dava até gosto de ler.
Uma história bem estruturada,
Tinha começo, meio e fim.
Mas algo me soava estranho.
Era muito certo.
Certo demais.
A perfeição dos personagens era intrigante.
O herói era cintilante como sol das manhãs,
A mocinha sempre surrada pela vida.
O vilão - ah, o vilão.
O clichê em pessoa.
Cruel e fugaz.
Nada fora da normalidade.
Das histórias típicas.
Da cultura das histórias.
Mas a história já estava pronta e muito conhecida.
Não precisamos conhecer a história da história.
E assim é.
Li
Re-li
Mas descobri que as linhas retas tinham lacunas na história
E de tão perfeita se tornava torta.
Percebi que as histórias nunca serão retas.
A linha que se escreve as histórias nem sempre são retas.
Mesmo que insistimos a ve-la reta.
Mas não é reta.
E não será.
Então, ficarei aqui.
Admirando minha história em linhas tortas
E torcendo pelos que só enxergam a linha reta.
E ela brotava da terra negra.
Terra que nutria mais que as outras terras.
E ela era bonita.
Era planta,
Era vento,
Era chão,
Era incêndio.
Ela era o mundo!
Mas um dia
O que era colorido,
Ficou opaco.
E a tela ficou sem cor
E não teve risada,
Ficou mudo.
E mudou
E o tempo partiu seu espírito.
E isso também partiu meu espírito.
E a terra escura,
Ficou terra cinza.
Virou terra dos cínicos.
E o que era grande
Se apequenou.
Mas no fundo,
Se cumprirá a regra.
Ela é bonita de alma grande,
Nascida a terra negra...