segunda-feira, 23 de setembro de 2019

As Cores do Mal

Era uma criminosa.
Tem pele dos malandros,
dos que roubam,
dos que são inadequados.

Não podemos ter no bolso um só vintém,
lá vem ela com sua arma em punho
atacar as pessoas de bem,
para tirar o que tenho por merecimento,
o que herdei por merecimento.

Não aguento essa gente (mediocridade),
que reclama quando os helicópteros
tentam fazer seu trabalho de limpar nossa sociedade
e potencializar nossa brasilidade.

Só por que morrem algumas pessoas
que com certeza, tem algo a dever,
nessas favelas que eles criam para atacar nossa boa gente.
Essas pessoas que tem boa vida mas dizem que não – metem.

Ela tinha 8 anos mas
já era uma pessoas que poderia nos pôr em risco.
Com sua roupa de mulher maravilha,
sem dúvida já devia chefiar alguma gangue ou quadrilha.
Se não fazia, iria fazer.

Ela era essa gente de cor
que diz que temos dívidas históricas.
Não tenho nada com isso
Moro na zona sul e sem ações despóticas.

Acho que cansei da ironia...

Enquanto ela morre,
uma criança que não soube o porquê,
imersa na alma de uma pai, mãe ou avô,
nossos olhos lacrimejam sangue.

E mataram a menina,
Mataram a mulher Marielle,
Mataram Amarild,
Mataram mais negros e negras.

Mas o importante e a liberdade política,
fazer cirandas e intervenções artísticas,
que fazem a manutenção da ditadura que novamente se tornou armada.
Na ditadura de mais de quinhentos anos,
os desenganos dos desenganados,
daqueles que sofrem em uma ditadura
disfarçada de democracia.

Era só uma criança...

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Olhos

Acordei com dor de cabeça
sentindo aspereza naquilo que tocava.
doí-me nas entranhas.
Fiz um pequeno alongamento,
Alimentei minha mente com bons pensamentos
e levantei-me.
No quarto ainda escuro.
procuro apoio e ao alcançar o interruptor,
acendo a luz.

Uma luz absurda entra no quarto,
violentamente invade meus olhos,
inunda minha mente.
fico segundos sem conseguir ver nada,
nada a minha frente.

aos poucos, consigo abrir os olhos -
fico atônito: é tanta luz que eu consigo ver longe
do palmo a minha frente a uma agulha no topo dos montes.
inacreditável!

saio a rua.
observo tudo atentamente com minha nova ultra visão
vejo o homem que anda ligeiro  com um dor imensa em seu peito
vejo a mulher sofrendo a dor da perda do filho calada sorridente
vejo o menino com fome, doendo-se pelo meio pão que dividirá com seu irmão esquelético.
vejo assustado,
mas vejo.
desejos perdidos,
felicidades fugazes,
rapazes e moças,
fardos e esperanças,
a dor dos adultos e das crianças.
a cada visão, minha cabeça mais dói

fujo desesperado para um beco.
lá está tudo escuro.
a dor cessa .
quanto mais meus olhos se fecham
menos dor sinto.

penso, repenso, penso.

com um só golpe, furo meus olhos,
o sangue jorra mas nada dói,
minha cabeça que doía não dói mais.
volto e deito-me no meu quarto escuro...