sábado, 17 de agosto de 2019

A Grande Construção de Mim

Tijolos colocados um a um
Concreto, vigas para o teto.
Meço de uma forma cirúrgica
cada azulejo, cada ladrilho.
Vergalhões instalados, os sacos do cimento mais forte.

Furei um poço,
Tirei a água mais clara.
Armei o concreto e matei a sede.
O suor pingando, sol queimando
eu construindo.

E ela do outro lado olhando.
Serena…
Eu a via e a desejava.
Ela me olhava, acenava
enquanto eu sonhava com ela na minha sala,
na minha cama,
na minha casa.

O ultimo azulejo foi assentado.
Sentei-me a varanda
respirei…
E ela lá…
Olhava-me com ternura - olhos cintilantes.
A chamei.

Ela se levantou, veio em minha direção,
Admirou minha construção e sacou sua marreta.

Inebriado, não a percebi.
Olhava extasiado…
ela passeava pela construção como uma pluma,
me sorria, prometia felicidades e batia.
A cada azulejo arrancado, a cada buraco nas paredes,
meu coração embriagado, sorria.

Cada parede construída,
cada lembrança,
cada suor…
Chorei noites sem enxergar.
Nada sobrou…
Nada…

após tudo destruído,
ela sacou um lenço,
enxugou minhas lágrimas, sorriu e disse.
-Meu Amor, reconstrua que volto.
Passei horas deitado,
olhando para o céu.

Engoli o soluço,
Peguei o resto do cimento no saco,
e empilhei meu primeiro tijolo...

Simplesmente apagou....

Simplesmente apagou.
Não ouvi estouro,
O mundo não parou
Nenhum terremoto,
Não vi o céu cair 
Não teve labaredas de fogo
Nem lavas em rios,
Nem insuportável frio
Com gélidos ventos
Nem tempo fechado e nem temporal
Simplesmente apagou
Não ouvi gritos
Nem risos histéricos
Nenhum anjo veio
Não tive medo nem receio
Não houve nada,
Simplesmente apagou....

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Penso, logo resisto...

Fiquei aqui parado
com medo de tudo
meio cético
meio surdo
Não sei se volto ao começo
ou se recomeço a andar
mas o que me faltou na alma
ganho quando, ao céu, volto a contemplar

Parei meio surdo
meio triste e louco
surto 
em um espaço turvo
mergulho em mim
bem fundo
no lodo, limbo,lixo...
murmuro
Reflito, penso,
logo resisto...