terça-feira, 4 de novembro de 2014

Vermelho

Vim ao mundo de uma forma tumultuada.
Gritava para me manter vivo, desobedeci minha má sorte,
Mexia meus dedos frágeis para segurar o peito e não sentir fome
Ganhei um nome que, sem querer ou não, reflete o que sou.

Lutei desde cedo com marmita fria
Para que os açoites doessem menos
Chorei muitas vezes alimentando quem ria,
Partido em muitas pedaços

Me fiz um, me fiz vários
Tive várias costas para doer
Vários rostos para olhar.
Nasci um , vivi vários

Dei as mãos, caí.
Me levantaram, com a mesma canção.
Meu corpo para muitas pernas
Minhas pernas para vários "eu".


Assim me fiz Romney de sangue vermelho,
De alma vermelha,
De olhos vermelhos,
De foice e martelo.

Hoje estou aqui.
Coração blindado mas continuo a luta
Não me permito cair, 
Não me permito ser pouco
Continuo com sangue aquecido
Esquecido nessa guerra sem fim.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Uirapuru

O amor...
Bicho estranho louco desvairado,
Se finge de santo mas é puro pecado.
Se esconde no meio do mato,
Olha, assunta e muda a forma - formato.
Você corre, o cerca.
Ele pula, voa e as vezes parece rir.
Mas a gente incansável corre de novo, pula com o racional envolto - entorno de nós e nada.
Fico escondido num canto a espreita e ele me bica por trás e me faz sentir essa cruel dor.
Sento e desanimo
E a navalha com seu fio fica enterrado na alma.
Foi-se embora a astucia.
E esse bicho estranho que achei que já era extinto existiu
Como um Uirapuru
O bicho do céu azul que canta
No mato para que o resto se cale 
E deixe que as plantas do mato exale seu perfume.
Mas ainda fico na espreita a procura-lo...

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Epopeia de Um Homem Qualquer

O dia nasce.
São homens e mulheres - cidadãos sem face.
É humano ser insensível,
Urbano ser intangível,
Perdendo sangue, perdendo dentes.
Ser invisível.
O impossível batendo as portas da realidade cruel.

Deitei essa noite olhando o céu e não o vi.
Continuei perdendo meus dentes e ainda sim sorri,
Imerso numa caudalosa piscina.
Falta de vergonha ou cocaína? 
A tempestade arrasa calmamente a vida que segue como um nau a deriva.
Num oceano de pensamentos que arremessa-me as rochas,
Prende-me as dunas.
Minha vida as vezes parece assim:
Parada. 
Estagnada.
Mas á quem diga que os dias continuam passando.
Não me dão muitas certezas mas continuo andando...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

As Aves de Penas Verdes

A ave de penas verdes
Que mata a cede no lago
Amarga a indiferença
Das aves que ali se encontravam
As aves de penas claras
Voam sempre em bandos
Sobrevoando as matas
Formando no céu um manto
Mas a ave isolada sente
A dor da solidão atroz
Esquecida como se fosse gente
Caminhando na vida só...